sábado, 10 de outubro de 2009

Fui conversar para um sítio mais bonito. Agora moro aqui

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Entrevista a Salvador Mendes de Almeida



É impossível ficar indiferente ao Salvador. A energia com que explica os seus projectos contrastam com o corpo preso a uma cadeira de rodas. Falámos de sonhos, acessibilidades e do seu mais recente desafio, o programa de televisão com o seu nome.

"Tenho aprendido que na vida temos de nos focar naquilo que somos bons. E fazer das desvantagens uma vantagem."


"Acho que o programa vai ter bastante impacto, até porque aborda a temática da deficiência mas de uma maneira séria, optimista, e não lamechas. Mais do que uma lição de vida, espero que o programa ajude a mudar mentalidades. "

Rita Filipe – Quem é o Salvador?

Salvador Mendes Almeida – É um jovem com 27 anos, alegre, bem disposto, de bem com a vida e que aos 16 anos teve um acidente de mota. (...)

RF – Como surge a Associação Salvador?

SMA – Desde que tive o acidente e que fui retomando o contacto com a realidade, fui percebendo que não era uma situação passageira, que não era dali a um ou dois anos que ia voltar a andar, tive de me confrontar com várias situações. (...) Tenho aprendido que na vida temos de nos focar naquilo que somos bons. E fazer das desvantagens uma vantagem. Quando estava a terminar o curso, fundei a Associação Salvador porque percebi que os apoios para pessoas com deficiência e os apoios nesta área das acessibilidades são poucos ou inexistentes. (...)

RF – O Salvador recebe muitos pedidos de ajuda na associação?
SMA – Sim recebemos bastantes. Desde pedidos de cadeiras de rodas, a adaptações para uma casa, pedidos de informação para transformações de carros, desde pessoas que procuram eventos de convívio para se integrarem e para estarem com pessoas na mesma situação. Recebemos diversos pedidos aos quais tentamos responder da melhor forma para respondermos à nossa missão que é a integração plena das pessoas com mobilidade reduzida.

RF – A Associação vive do mecenato?
SMA – Exactamente. É uma associação sem fins lucrativos, vive de mecenas, de empresas que nos apoiam mas também de particulares que podem contribuir através de 2 euros por mês, através de uma mensalidade, tornando-se amigo da associação Salvador. Tornar-se amigo é não só comparticipar com uma verba mensal, anual o que a pessoa entender, mas também a nível de voluntariado. Desde levar uma pessoa paraplégica da zona onde habita a passear, desde ser nosso voluntário em eventos de convívio.

RF – A partir de Segunda-feira, 12 de Outubro, a Associação vai passar a ter com certeza uma visibilidade diferente. Estreia na RTP1 o programa Salvador. Fale-me deste desafio.

SMA – O programa tem 13 episódios. Em cada semana apresento uma história de vida de uma pessoa positiva, com coragem. Damos a conhecer pessoas que vivem com muitas dificuldades no seu dia-a-dia mas não foi por isso que deixaram de lutar e de viver. (...) Acho que o programa vai ter bastante impacto, até porque aborda a temática da deficiência mas de uma maneira séria, optimista, e não lamechas. Mais do que uma lição de vida, espero que o programa ajude a mudar mentalidades. Às vezes as pessoas não dão emprego a pessoas deficientes, ou pensam coitadinho, e põem-no na recepção a atender o telefone. (...)

RF – Portugal é um país complicado na questão das acessibilidades?
SMA – As pessoas são pouco respeitadoras. Eu quero acreditar que quando alguém estaciona num lugar reservado a uma pessoa com deficiência, ela não tem noção do que faz. Porque se conhecesse as dificuldades que as pessoas sentem no dia-a-dia, ter que tirar a cadeira, ter que a pôr, se está a chover demora mais tempo ainda, se estaciona mais longe ainda terá possivelmente de subir a um passeio… são inúmeras as barreiras.

RF – Qual foi o maior desafio da sua vida?
SMA – O mais radical foi ter mergulhado a mais de 30 metros de profundidade e depender sempre de terceiros. E eu não poder controlar nada. Quando penso nisso acho um bocado inconsciente. Se acontece alguma coisa à outra pessoa eu não consigo sair de lá. O mergulho foi um dos grandes desafios da minha vida. O mergulho é assim o mais radical, mas todos os dias temos que desafiar-nos a nós próprios. Para fazer mais daquilo que fazemos e cada vez melhor. O desafio em que estou neste momento mais empenhado, é através da associação Salvador, a construção de um Portugal mais acessível.

RF- É esse o seu maior sonho Salvador?
SMA – Não é o maior, tenho outros sonhos como casar e ter filhos, voltar a andar, mas são coisas que não acontecem de hoje para amanhã. São projectos a longo prazo. A construção de um Portugal mais acessível também é uma coisa faseada, mas enquanto profissional desta área de acção social, onde a associação faz o seu trabalho, é onde me sinto mais realizado.


RF – Com todas as dificuldades que enfrenta diariamente, onde é que o Salvador encontra a sua força?

SMA – Faço questão de me rodear de pessoas com energia positiva. Acho que às vezes temos um conceito errado de felicidade. A felicidade não consiste apenas em momentos bons. A felicidade duradoura é um processo contínuo.




entrevista completa aqui

terça-feira, 6 de outubro de 2009





O meu próximo convidado é um exemplo de vida. Salvador Mendes de Almeida prepara-se para mais um desafio. No seu novo programa torna os sonhos de pessoas com mobilidade reduzida em realidade. "Salvador" faz parte de nova grelha da RTP1 a partir do próximo dia 12 de Outubro.

sábado, 3 de outubro de 2009

Entrevista a Luís Rasquilha - Managing Partner/Senior Vice President da AYR Consulting


"Não é por acaso que o negócio de produtos que mais tem crescido em vendas no último ano são velas, preservativos, brinquedos eróticos e chás. "

O meu entrevistado chegou com um look casual. Quase casual... Nos pés trazia uns ténis cor-de-laranja a contrastar com o blazer preto. Tentou de tudo para sabotar a minha entrevista. Brincou com o gravador, respondeu a emails através do iPhone, olhou para os pombos. Aquilo que agora publico é o resultado de uma tentativa séria de fazer uma entrevista ao nosso cool hunter de serviço.
O arranque foi conturbado. O Luís não parava de testar o gravador. Consequentemente eu não parava de rir.


Rita Filipe - Quem é o Luís Rasquilha?

Luís Rasquilha – O Luís Rasquilha é um bocadinho disto, de espontaneidade, de diversão. E que tenta por sempre uma componente de diversão em tudo o que faz. Tenho 34 anos, e como dizem as minhas sobrinhas “já tem idade para ter juízo”, e divido-me entre as aulas que dou, a empresa onde estou mais focado na componente das tendências como core de negócio. (...) O Luís Rasquilha é o resultado de acontecimentos muito pouco planeados.

RF – Explica-nos o que é ser cool hunter.


LR - Vamos primeiro explicar o que é ser cool. É uma componente técnica, é uma profissão, e tem uma definição muito clara. Cool é tudo aquilo que é atractivo, inspirador e com potencial de crescimento. Ou seja, não estamos a falar de ideias, de gadgets, de coisas giras, de design. Estamos a falar de coisas, pessoas, comportamentos, cores, sons, locais, acontecimentos, objectos e tudo aquilo que entendamos como sendo atractivo, inspirador e com potencial de crescimento. Isso é a definição de cool que nós praticamos quase como um fundamentalismo. Ser cool hunter são as pessoas que no mundo procuram o que é cool. Ou seja, é um conjunto de pessoas que está em 2% da população mundial, e que mesmo assim já é muita gente, que tenta ser capaz de identificar nos outros, situações, acontecimentos, que possam no futuro ser tendência.

RF- Cool, é um conceito recente?

LR – O conceito cool tal como o entendemos tem 3 , 4 anos. A metodologia, ou a procura de coisas na tentativa de antecipar o futuro tem 15 anos. Nós trabalhamos com o comportamento do consumidor, com sociologia do consumo, temos de perceber como é que as pessoas se comportam e em função disso extrair para a realidade insights que sejam reveladores do que elas expressam, do seu subconsciente e depois transpor isso para as empresas como uma mais valia de negócio para criar novos produtos, novas marcas, com os actuais ou novos consumidores.

RF – Dá-me três exemplos de coisas que sejam tendência neste momento, que sejam cool.

LR – Uma que está muito na ordem do dia. A gripe A é um bom exemplo. Há um princípio na gripe A muito engraçado que é, se apanhares gripe ficas imune. E portanto quando a curas ficas resistente ao vírus. Neste momento fazem-se festas de pessoas infectadas com gripe A para que as pessoas apanhem a gripe antes do surto, do caos, da pandemia. Isto para que o tratamento que tenham seja ainda personalizado, mais cuidado. (...) E tu perguntas, o que é que isto tem de cool? Na perspectiva de ser atractivo, inspirador e com potencial de crescimento é muito interessante porque expressa nas pessoas a consciência clara dos comportamentos que têm, ou seja, ai meu Deus que tenho de fugir da gripe. Não, se calhar tenho é de apanhar a gripe A já para quando toda a gente a tiver eu já ter passado por ela. Este é talvez o extremo mais engraçado. Outro exemplo que também tem sido muito interessante na perspectiva do Facebook, Twitter, Strar Tracker, em que cada vez queres ter mais amigos, fazer crescer a tua base de amigos online, vais reduzindo a tua base de amigos offline. Tens 4 ou 5 amigos reais, e depois expões a tua vida na net. Aquilo que nós chamamos o secrecy please. Na tua vida real retrais-te um bocadinho e não mostras tudo. Isso é muito interessante para ver como marcas como a Adidas, a Footlocker têm criado séries limitadas de ténis, com design exclusivo, séries assinadas, para teres uma coisa que é só tua. Exactamente para bater neste tópico do secrecy. Outra coisa muito engraçada prende-se com a alimentação. As pessoas continuam a não ter tempo para comer, e isso proliferou muito a fast food. Hoje com as preocupações alimentares e com a obesidade, as pessoas continuam a não ter tempo para se alimentarem bem mas estão a abandonar o conceito fast food e estão à procura do good food fast. Ou seja comida relativamente rápida ou embalada, mas rápida. E em Portugal tens a Go Natural a Magnólia, tens o H3. São marcas que incorporam o espírito do good food fast. Não tenho de estar à espera, como logo ali, mas é comida mais saudável do que a típica pizza ou hambúrguer de plástico. Dei-te 3 exemplos sendo que o meu preferido é a gripe A neste momento.

RF – O que vai ser tendência brevemente?


LR – A crise mundial que todos nós vivemos, uns mais directamente do que outros, tem muitíssimas vantagens. A primeira é o regresso à família, o regresso a casa. Um back to basics. Ou seja, as pessoas porque não têm dinheiro para as férias, as viagens, os fins de semana fora, os jantares fora, há uma retracção desse tipo de comportamentos e as pessoas têm de se virar mais para dentro de casa e para a família, que tem a ver com uma série de valores mais antigos. Vai ajudar negócios como o das televisões, das consolas, da música, em que passas a ter dentro de casa aquele entretenimento que se calhar vivias fora. Querias ir para algum sítio e agora como não podes ficas em casa. Não é por acaso que o negócio de produtos que mais tem crescido em vendas no último ano são velas, preservativos, brinquedos eróticos e chás. E isto explica-se. (...) Outra, e essa continuará a ser cada vez mais expressa tem a ver com a economia da experiência. Nós estamos muito mais numa lógica de compra e decisão emocional, até porque como temos que racionalizar o nosso dinheiro, não podemos comprar tudo e portanto temos de racionalizar entre duas emoções, o que é uma dicotomia engraçada, e estamos a assistir ao facto de as pessoas quererem coisas, experiências memoráveis. Ou seja, em vez de comprarem mais um carro ou mais um relógio, querem aquele carro, aquele relógio. Podem não voltar a comprar mais nenhum na vida, mas é aquele que lhes proporciona uma experiência absolutamente inesquecível. Deixa de haver espaço para a não diferenciação. Tudo o que é igual deixa de ter espaço.

RF – Dentro da mala tens o primeiro exemplar do teu novo livro. Acabaste de chegar da editora. O que acrescenta ao mercado?

LR – O livro chama-se Publicidade e depois tem um subtítulo onde tem fundamentos, estratégia, criatividade, média e técnicas de comunicação. Está assente naquilo que é o curso no INP que eu coordeno em Publicidade. (...) De certa forma é a sebenta que ajuda os alunos a conseguirem acompanhar. Qual é a vantagem do lançamento deste livro? Ele vem trazer por um lado de uma forma muito pragmática e muito concentrada e simples, a questão de que a boa publicidade não é tabu, todos a podem fazer e não é só conseguida pelas grandes marcas. Aliás, a grande diferença que tem este livro é ser um livro de publicidade sem ter um único anúncio. (...) Não venho dizer que este é o melhor livro de publicidade do mercado, mas é a primeira vez que um livro junta a componente da estratégia com a componente criativa.

RF – Com tantos projectos como é que geres a tua vida pessoal?

LR – A vida pessoal é a grande penalizada disto tudo. Raras pessoas conhecem a minha vida pessoal. Não a mostro e faço-o deliberadamente. Gosto de proteger quem está à minha volta, até porque tenho pouco tempo para eles não os devo expor a essa falta de tempo. A minha vida pessoal é gerida com alguma dificuldade, com as pessoas que à volta se queixam pela minha ausência, sejam os amigos ou a família. Tem sido difícil de gerir, mas quem me conhece e gosta de mim já se habituou mais ou menos. Não sou claramente um modelo de vida pessoal.

RF – Qual foi a pergunta que nunca te fizeram à qual gostavas de ter respondido?

LR – É difícil …já fiz muitas entrevistas nos últimos 5 anos com alguma regularidade… olha, a pergunta se me arrependo de alguma coisa do que fiz até agora, é uma pergunta interessante. Nunca me perguntaram isso.

RF – Então cá vai, arrependes-te de alguma coisa que fizeste?

LR – Todos temos algo de que nos arrependemos. Profissionalmente faria tudo da mesma forma, não me arrependo de nada. Em relação à minha vida pessoal mudaria algumas coisas, seria claramente diferente. Mas não me arrependo de rigorosamente nada. Se voltasses atrás onde é que mudavas alguma coisa? Em termos profissionais há 10 anos atrás, e não querendo dizer as marcas, estava comprometido com uma empresa, tinha um contrato assinado e tive um segundo convite. Esta segunda empresa era uma espécie de modelo na altura, da qual eu gostava imenso. Pensei se deveria quebrar o contrato que tinha com a primeira para ir para aquela. Mas os meus valores éticos falaram mais alto e fiquei onde estava. Revelou-se uma experiência interessante mas não com a solidez e a durabilidade que eu achei que teria quando fui para lá. Se tivesse quebrado o tal contrato tenho a certeza de que hoje estaria com certeza na segunda empresa. Mas não é um arrependimento, é uma constatação de que houve ali um momento de indecisão que mudaria de certeza o que estou a fazer hoje.
entrevista completa aqui

domingo, 27 de setembro de 2009


O que é um caçador de tendências?
O que é ser cool?
No dia em que publicou mais um livro, Luis Rasquilha , professor no INP e Managing Partner/Senior Vice President da AYR Consulting , respondeu-me a estas e outras questões.

sábado, 26 de setembro de 2009

Entrevista a Gil do Carmo

Aos 36 anos, o músico Gil do Carmo assume-se casado com "a tasca" que gere todas as noites.
O Speakeasy foi palco de uma conversa com música, recheada de profissionalismo e com um leve sabor a afectos. Fique nestas linhas e descubra porquê.

Rita Filipe – Quem é o Gil do Carmo?

Gil do Carmo – Quem é o Gil do Carmo? Como é que eu hei-de responder a isso… Sou um Lisboeta, português, de 36 anos de idade, que nasceu no meio da música e das artes, e que desde miúdo queria ser cantor, músico, compositor e estar ligado á música. (...)

RF- Porque é que aceitou uma entrevista para um blogue com uma Rita Filipe que não é uma jornalista conhecida?

GC – Porque adoro desafios, gosto de coisas diferentes, acredito nas pessoas, é cliente da minha tasca, e traz-me a garantia que é o conhecimento de ser frequentadora da minha tasca. Acho que mal não trará ao mundo fazer essa entrevista consigo, portanto é logo um bom princípio.

RF – Porque é que este espaço se chama Speakeasy?

GC – Chama-se Speakeasy… eu estive para abrir o Speakeasy com o Lauren Filipe. Estive na génese da abertura desta tasca. Coincidiu que estava a viver nos EUA na altura. E Speakeasy é um termo…como poderei dizer…não é só técnico, é uma expressão idiomática, no princípio do século passado em Nova Iorque, na altura da Lei Seca existiam mais ou menos 32 mil Speakeasys. O que eram os speakeasys? Eram teoricamente casas de chá, onde nas canecas e nas chávenas de chá, se servia álcool, todo tipo de álcool e de certa forma os speakeasys estão associados à génese do Jazz. Génese essa que foi, passo a redundância, a génese desta casa. Começou como uma casa de música ao vivo, onde também de preferência se pode comer bem, mas começou basicamente orientada pelo Jazz. E daí chamar-se Speakeasy.

RF – Nunca pensou em abrir um segundo Speakeasy?


GC – Já pensei abrir vários, (...) tenho é a falta de uma qualidade, estou ainda para conhecer alguém, que se chama omnipresença. (...) eu sou verdadeiramente casado com esta tasca. Farto-me de trabalhar e acho que de certa forma o que se vive, e a vivência desta tasca passa por mim. Porque foi assim que eu a fiz. Não sei se o espírito que se sente aqui ou fazendo um franchising, ou abrindo uma cadeia de speakeasys…supondo Funchal, Porto, Faro, Almancil, Coimbra, se iria manter.
RF – Como é que se tem vida pessoal quando se trabalha à noite?

GC – Não se tem vida pessoal. Não existe.

RF – Do meu conhecimento do Speakeasy, o Gil está cá todas as noites.
GC – Estou e não é só a questão das noites. Para existir a noite teve de haver o dia. E tem de haver a programação do dia, as reservas, a programação da música, a orientação do pessoal, a mise en place, etc etc etc

RF – A sua razão de viver, neste momento, é o Speakeasy?
GC – Não. A minha razão de viver é o amor que sinto pelas pessoas que me são próximas. E os momentos felizes que essas pessoas me transmitem, que me fazem viver e que podemos viver em conjunto. Porque sou eu e o José Cid. “Eu nasci para a música”.

RF – Imagine que amanhã a Câmara Municipal de Lisboa lhe fechava esta casa por uma razão qualquer. O que é que lhe acontecia?
GC – O António Costa primeiro que tudo tinha-me á perna. Ai dele que faça uma coisa dessas. Já quer fazer o disparate de fechar o trânsito do Cais do Sodré para aqui. Aproveito para dizer que acho isso um absurdo. Mas o que faria da minha vida? Ia dedicar-me á música a 200%. O que também tenho muitas saudades.

RF – O Speakeasy tem um site. Nunca pensou criar o Blogue do Speakeasy? O Facebook, o Twitter, Star Tracker. Qual é a sua relação com as redes sociais?
GC - Eu sou muito antiquado para a geração em que vivo. Detesto computadores, detesto essa chachada toda. Não quero que pareça pedante a minha resposta, de forma nenhuma. (...) Gosto de sentir o calor da forma da comunicação, gosto de ouvir a voz e de saber que tenho um interlocutor. A história do Facebook, não tenho nada a ver com isso, não tenho pachorra.

RF – Como é que escolhe as bandas que ouvimos aqui todas as noites?
GC – Por uma selecção muito rigorosa. Eventualmente o prestigio que os clientes dizem que o Speakeasy tem, e que é um caso à parte. Fico feliz por isso. Tenho seguido um critério rigoroso nestes 10 anos. Ou seja, posso dizer que comecei com 5 dias de música mais orientada pelo Jazz, dos 5 passei a 4, de 4 para 3, para 1 e agora só a anunciar de vez em quando. Contra mim falo. Tenho muita pena que as pessoas achem “muita giro”, porque a expressão é mesmo essa, não é muito, é “muita giro”. Ai o Jazz é “muita giro”. Mas ninguém sabe o que é Jazz. Ninguém ouve Jazz. Diana Krall é uma excelente intérprete, e é uma excelente pianista, mas o que ela hoje faz já não é Jazz. Para perceber o conhecimento de música em Portugal, se não se ensina música nas escolas não se pode ter um grau de exigência para com o público. Porque as pessoas ouvem a música que lhes toca o coração. E isso é o mais importante. Contudo, é impossível ter uma casa sustentada na base do Jazz. Tenho muita pena. E hoje a programação do Speakeasy vai do Fado ao Hard rock. Democracia total. Desde que não baixe um padrão de qualidade, que é o meu. Há coisas que não deixo que passem nesta casa.


RF – Para quando uma colectânea intitulada “Speakeasy” com as músicas das bandas que convida a virem cá?
GC – Estou para fazer isso há bastante tempo. Já deveria ter sido feito. De facto é a verdade. Breve, breve.



RF – Quando é que vamos ter o prazer de ouvir o Gil do Carmo a actuar na sua própria tasca?
GC – (...) Acho que não é por ser dono de uma tasca que vou obrigar as pessoas a ouvirem-me todas as noites. Gosto da sensação de que as pessoas vão-me ouvir inesperadamente, e quem cá está é que vai guardar essa memória. E participo porque canto qualquer coisa com alguém. É verdade que quando peguei no Speakeasy comecei por tocar uma vez por semana, depois passou a ser de 15 em 15 dias e depois uma vez por mês, até que parei. Tive necessidade de parar para fazer um novo disco, o que já não acontecia há bastante tempo. E a verdade é que não voltei a esse hábito de tocar no Speakeasy. Mas brevemente voltarei de vez em quando.

RF – O Speakeasy parece imune à crise. Não sendo barato, está cheio todas as noites. Como explica isto?
GC – Acho que as pessoas, ainda para mais em crise, procuram onde se sentem bem e onde podem sentir-se protegidas da selva que é o quotidiano e o mundo lá fora. (...)
Tem tudo de correr a 200% desde que o cliente entra até que sai, para que volte. A procura de afectos acontece cada vez que há uma crise. É importante que os clientes venham, mesmo quando têm menos dinheiro para gastar. E eventualmente em vez de consumirem dois consomem um. Roda mais a sala. Acho que é a procura desse afecto que faz com que o Speakeasy esteja cheio todas as noites.

RF – Sente que o Speakeasy tem um papel na divulgação das bandas portuguesas? É dos poucos bares com música ao vivo todas as noites.
GC – É o único. É uma responsabilidade que me está a dar e eu não a quero ter. Se fico feliz por isso? Fico feliz por ser um louco que ainda acredita e continua nessa árdua tarefa e nesse árduo trabalho. (...)

RF – Qual foi a pergunta que nunca lhe fizeram à qual gostaria de responder?
GC – Não faço ideia… Como é que Portugal vai estar daqui a 10 anos? Talvez… é uma excelente pergunta, tenho 36, gostava de aos 46 ter os meus filhos numa escola porreira, os filhos que terei, e ter a certeza de que vivo num país com excelentes condições para os educar, o que neste momento duvido.

leia a entrevista completa aqui

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

E o senhor que se segue dá pelo nome de Gil do Carmo.

Fui entrevistá-lo à tasca onde se encontra todas as noites. Speakeasy